Por thiago.antunes
Rio - O estilo de vida lembra o de um bon vivant. Roupas caras, carros importados e até um helicóptero. A farra, que seria patrocinada com o dinheiro público, tinha na ponta o prefeito de Itaguaí, Luciano Mota (PSDB). Ele, segundo investigações da Polícia Federal (PF), faz parte de um esquema que envolve secretários, empresários e servidores que provocava um rombo mensal de R$ 30 milhões nos cofres do município.
Agentes estiveram nesta quinta-feira na cidade e fizeram uma operação, que resultou numa devassa na prefeitura. A ação da polícia foi comemorada com gritos e fogos de artifício por um grupo de moradores. Doze pastas com nomes de funcionários fantasmas foram localizadas na Secretaria Municipal de Administração.
Agentes da Polícia Federal buscaram provas do esquema de fraudes na sede da prefeitura da cidadeSeverino Silva / Agência O Dia

Os policiais cumpriram 11 mandados de busca e apreensão e cinco de condução coercitiva em Mangaratiba, Niterói e Itaguaí. Os alvos eram o prefeito Luciano Mota, dois secretários ( Turismo e Eventos e Transporte), o assessor de Assuntos Externos e também um gerente da empresa Tristars, contratada para coleta de lixo. 

Foram encontrados apenas o secretário de Turismo, Ricardo Luiz Rosa Soares, que será indiciado, e o assessor de Assuntos Externos Amaro Gagliardi, indiciado por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, desvio de verba pública, fraude de licitação e crime ambiental. Mota não foi localizado pela PF.

As nomeações irregulares, segundo o delegado federal Hylton Coelho, da Delegacia Regional da PF, em Nova Iguaçu, devem gerar um gasto próximo de R$ 1,5 milhão na folha mensal de pagamento. Um dos objetivos da investigação é comprovar que esses fantasmas eram recrutados com ajuda de alguns vereadores, que teriam uma cota de até 30 vagas na prefeitura. Os salários eram de R$ 7 mil, mas os “funcionários” recebiam na verdade entre R$ 500 e R$ 700.

PF investiga algumas irregularidades que teriam sido cometidas pelo prefeito Luciano Mota no município de Itaguaí. População comemorou ação com fogos de artifícioFoto%3A Severino Silva / Agência O Dia

“A investigação não acabou. Mas todos os indícios apontam para que ele (o prefeito) seja o cabeça deste esquema. Está acontecendo ali uma fraude ao estilo mensalão”, afirmou o delegado. A Operação Gafanhoto — o nome foi escolhido porque o grupo era considerado um enxame que dilacerava o erário público — é resultado de seis meses investigação. 

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O esquema na prefeitura envolve também licitações fraudulentas e contratos irregulares, sempre milionários. Até mesmo a arrecadação de royalties de petróleo do município está na mira da PF. Os recursos estariam sendo usados para pagar empresários participantes da quadrilha que fraudava a prefeitura.
O prefeito Luciano Mota não foi encontradoDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

Laranjas do prefeito gastaram R$ 144 mil na compra de ternos e TV

As suspeitas de uso indevido dos recursos do município começaram após denúncias anônimas. Um ex-segurança do prefeito se tornou peça-chave nas investigações. Ele ajudou com filmagens e fotos a comprovar parte do esquema que mostrava gastos exorbitantes do chefe do Executivo e altas quantias de dinheiro em malas. Este ano, por exemplo, Luciano Mota teria adquirido dez ternos da grife alemã Hugo Boss num famoso shopping da Barra da Tijuca. Pela renovação do guarda-roupa foram pagos R$ 45 mil, em dinheiro. A compra foi feita pelo ex-segurança.

Da mesma forma, sem colocar seu nome, segundo o delegado Hylton Coelho, Mota adquiriu uma televisão no valor de R$ 99 mil, também comprada em nome de um funcionário, mas entregue na casa do prefeito. O pagamento também foi feito em espécie na loja de eletrodomésticos.

Operação antecipou recesso dos Vereadores
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Se comprovado o rombo nos cofres de Itaguaí, isso significa que um terço da arrecadação do município, de R$ 90 milhões mensais, é usado de forma ilícita. Durante a primeira fase da investigação, a PF apreendeu dois veículos de luxo adquiridos pela quadrilha, que tem pelo menos 50 pessoas envolvidas. Um dos carros era uma Ferrari, avaliada em cerca de R$ 1,5 milhão, usada pelo prefeito.
Na lista de bens que também pertenceriam ao grupo está um helicóptero Robinson R66, cujo valor de mercado pode chegar a R$ 2 milhões. A operação da PF antecipou o recesso da Câmara de Vereadores. A sessão extraordinária prevista para hoje, que seria a última do ano, foi cancelada.
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A presença da PF na prefeitura foi aplaudida. Até mesmo quem participou da campanha do prefeito comemorou. “ Hoje (quinta), com a PF aqui, estamos em festa”, afirmou Sueli Fernandes, 32. Mota venceu a eleição com 47, 09% dos votos.
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