Renato Cinco - Divulgação
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Por Renato Cinco*
Austrália em chamas; recorde de temperatura na Antártica; chuvas cada vez mais fortes e frequentes no Brasil. Neste verão do hemisfério Sul, estão evidentes as consequências das mudanças climáticas. Fica ainda mais difícil defender a balela negacionista que tenta refutar o que é consenso no mundo científico: a atividade humana está modificando rapidamente o clima terrestre e se continuarmos no mesmo rumo haverá consequências catastróficas.

Nos últimos anos, o termo “Antropoceno” é cada vez mais utilizado para designar a era geológica que estamos vivendo. O termo, cunhado nos anos 80, aponta para o período no qual a atividade humana se tornou preponderante nas modificações do Sistema Terra. Poluição atmosférica e hídrica, extinções em massa, desmatamentos são algumas das marcas que a humanidade deixou nesses últimos três séculos.

O termo, contudo, não incorpora as dinâmicas socioeconômicas que ditam esse processo. Os seres humanos não são igualmente responsáveis ou determinantes para a marcha e para o abismo que traçamos. Existe uma ínfima minoria, detentora de riquezas astronômicas que controlam os governos e decidem como a economia se organizará, qual vai ser a oferta de produtos e que matriz energética será empregada. A destruição da natureza é consequência do enriquecimento para esta minoria.

Este não é apenas um debate semântico ou acadêmico. É fundamental que se compreenda que a origem do problema é política e socioeconômica e não simplesmente existencial ou demográfica. Só desta forma conseguiremos encontrar saídas. Existe em parte do movimento ambiental uma visão eco capitalista. Creem que é possível, por meio do desenvolvimento tecnológico e reformas dentro do sistema, fazer as alterações estruturais necessárias para se frear as mudanças climáticas. Ignoram a necessidade de crescimento que é intrínseca ao sistema atual. Não por acaso as cúpulas internacionais sobre o clima acumulam fracassos sucessivos.

A humanidade precisa realizar medidas drásticas se não quiser ter centenas de milhões de refugiados do clima nas próximas décadas. A indústria do petróleo tem que ser superada, o que inclui a diminuição drástica dos voos e de veículos não elétricos. O mesmo ocorre com pecuária de animais ruminantes (vacas e cabras), da pesca de larga escala e com a mineração. A obsolescência programada e a percebida devem ser banidas, precisamos que os produtos tenham uma longa vida útil.

Para que a redução da atividade econômica não gere desemprego, ela deve vir acompanhada da redução das horas de trabalho e para abertura de empregos verdes. Os esforços econômicos devem ser destinados para a ampliação da reciclagem, projetos gigantescos de reflorestamento e para a produção agrícola agroecológica próxima ou dentro dos centros de consumo.

Infelizmente os donos do poder não aceitam essa agenda. Ela precisará ser implementada pelos trabalhadores, com organização e luta. Temos que fazer ecoar: não mude o clima, mude o sistema!
*Renato Cinco é vereador pelo PSOL